sexta-feira, 25 de maio de 2012

ENSAIO SOBRE UM NEUROMA

... a debela que abriu outras feridas.

foi pouco mais de um mês... primeiro parecia uma eternidade, depois quis que a eternidade permanecesse intocável, se estendesse por mais uma eternidade. Se quiser ser mais precisa, recuo um pouco mais, vendo bem, foram alguns meses.

Lembro-me do dia em que tive a certeza que a escolha tinha sido a certa; se foram as palavras, os gestos ou mesmo um simples desenho a ilustrar o que comigo se passava, não sei. Mas a atenção, o cuidado, a explicação dada como se fizesses questão de dissipar todas as minhas dúvidas e inseguranças, foram determinantes. Tudo diferente das anteriores experiências, sempre a valorizar cada ponta de ansiedade que a partir daí deixou de existir. Depois encontrei uma notícia, dos tempos de Timor, uma criança atingida por uma pedra e a forma como descreveste que tu e a tua equipa a conseguiram salvar. Tive a certeza que também me irias livrar da minha aflição. Tudo foi importante, e é importante que o saibas.

Nada pode ser insignificante se nos causa desconforto. Noites sem dormir que se prolongam porque temos o coração a bater forte, isso sim, mas nunca porque aquela dor acutilante e insistente não nos larga. Que se acorde sobressaltado, que seja porque tivemos um sonho bom (ou o contrário) mas que logo de seguida se solte um suspiro e se volte a adormecer.

Sei que vai ser passageiro, que estes meses, semanas ou dias que quero que fiquem sempre presentes não vão deixar de ser meros marcadores no pó dos livros, mais cedo ou mais tarde, livros esses aos quais, por vezes, volto e releio só breves trechos.

Mas eu merecia que não estivesses só de passagem na minha vida, sinto que fui melhor e maior e que o poderia ser por muito mais tempo se ficasses, aprenderia mais com as tuas histórias, com as emoções que sei que vives dia após dia. Essa disponibilidade de quem optou por estar ao serviço do bem estar de todos, esse esforço e essa dedicação que eu sei que nem todos os teus pares erguem num porta-estandarte e que os que ajudas nem sempre sabem reconhecer.

E eu dou graças por teres escolhido ficar entre nós, cantinho cinzento e triste que nos faz caminhar sempre com algum pesar mas que em certos momentos também nos põe um brilho nos olhos, por exemplo, quando à nossa frente vemos a imensidão do mar, este atlântico que une as terras a que chamamos pátria.

Gosto de olhar para o céu e pensar que podes ser tu que ali vais, quando te aventuras lá no alto, naquele pássaro gigante sempre vigilante, a postos para chegar onde é preciso o mais breve possível, antes mesmo que seja tarde. Como vingador das horas más, anjo branco de finas luvas, salvador de corpos mas sobretudo de almas, todo o teu saber fica ao nosso dispor para nos reerguermos mais fortes.

Tive tanto tempo para pensar, tanto tempo para imaginar que nesta roleta russa as regras ditam que é o destino quem manda, não adianta reunir forças porque não tenho como inverter o curso de um guião já traçado. E caso me quisesse esquecer, esse aro brilhante que expões com orgulho evidencia bem o laço que te prende a quem prometeste amizade e partilha por toda a vida. E és ainda MAIOR quando te divides em mil para que a atenção e o auxílio cheguem a todos.

E aconchego-me nas lembranças, nas memórias, nos pormenores, nos detalhes, dificilmente me iria esquecer de algum: uma festa na mão, as cócegas no dedo, um toque no pescoço no dia em que a febre subiu e nos pôs alerta e principalmente o tom da tua voz calma, serena, a pacificar o meu espírito.

Se te ofereci “Sei de um rio” é porque no curso destas águas passadas houve turbulências que ajudaste a amainar e indicaste as estrelas que haviam de me guiar para me levar a bom porto. Agradeceste e disseste que gostaste. Ainda bem. E sorri, por dentro. E agora vais para longe, num descanso merecido, uma pausa no contacto com o resto do teu mundo. Acho bem. Acho muito bem.

Está tudo entendido, clarificado, apaziguado. E só escrevo porque não to posso dizer, porque tenho medo que não compreendesses, mais uma vez porque o padrão estabelecido me iria atirar para a prateleira dos rótulos pouco dignos, porque temos de continuar a agir segundo o que esperam de nós, porque não podemos simplesmente gritar que ALGUÉM É IMPORTANTE PARA NÓS, só porque sim, sem querer dizer nada mais. Será por isso que não é fácil tecer um elogio a alguém apenas porque o consideramos um ser humano GRANDE!?!

… quem sabe um dia não nos voltamos a cruzar, numa curva do destino? E eu, finalmente te direi, que não foste apenas mais uma pessoa de passagem fugaz, figuras na lista das que foram importantes, mesmo que os instantes tenham sido breves.

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