o 2º exercício de EC:
Ai, o que eu adoro festas, em especial se
for um casório. Mas o casamento dos meus primos António e Violeta foi diferente
da maioria.
Estava uma tarde calma e solarenga e a
brisa trazia-nos o cheiro quente do campo lavrado. Ao chegar à igreja ouvi o
sino tocar anunciando o início da boda. Entrei e apercebi-me que os convidados
estavam num frenesim… um sussurro constante anunciava que alguém se atrasara,
desta vez teria sido… O PADRE?!?. Ouvi alguém segredar que se teria deslocado a
outra paróquia por causa de uma emergência mas pelos vistos ninguém avisou o
sacristão para não dar uso ao badalo (salvo seja) suspenso na torre, à hora
marcada.
Nada de mais, passados uns minutos
apareceu e antes de prosseguir desfez-se em mil desculpas dando, de imediato,
seguimento à cerimónia e, em menos de nada, já os noivos estavam no átrio com
uma chuva de pétalas e grãos de arroz a pontuar o espaço entre o ladrilho
irregular e as figurinhas esguias suspensas no pórtico de pedra talhado pois
alguém um dia se lembrou que os santinhos também gostam de testemunhar estes
delírios terrenos. O agradável odor que estava no ar e a temperatura que se
sentia nos ombros, remetia-nos para uma Primavera em flor, como que a apaziguar
a inquietude dos recém-casados.
Um ronco de motor de um carro antigo revelou
o transporte que os iria levar a caminho da lua-de-mel. Ao mesmo tempo ouviam-se
foguetes ao longe de tal maneira que a passarada levantou vôo, pelo bater das
asas, apressada.
Ao passarem no corredor ladeado pelas
roseiras bravas, o vestido da noiva fica preso nos espinhos, “será que largar
pedaços de tecido também dá sorte?!?”, disse ela em tom divertido. Agarro
no pequeno retalho deixado para trás e entre as mãos reconheço as rendas
antigas da avó guardadas no baú do sótão que adorávamos explorar: a textura pontiaguda
da pintura das paredes, das telas adornadas com fiadas de teias de aranha nos
cantos, as arcas de madeira com cheiro a óleo de cedro, os tapetes persa muito
macios com as franjas que teimavam estar sempre em desalinho mas que eu insistia
em pentear… o ladrar do Tobias ao longe, nas plantações, provavelmente atrás
das fugidias toupeiras.
Ainda hoje, confundo os sons e os cheiros
com as imagens que imagino e se sucedem nos meus pensamentos.
Escrever txt sobre uma festa de
casamento sem recurso à visão
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