Ao seguir pelo atalho que leva ao anexo, ouço o piar da coruja o sótão sempre fechado pois era lá que faziam o ninho e alimentavam as crias. Demos por isso pelas penas suaves que encontramos no chão. Outros animais deambulavam pelos carreiros aromatizados sons em harmonia pelo rosmaninho.
Na época das papoilas e dos malmequeres, deixávamos de ver o Musta, o cão, que desaparecia horas a fio atrás dos gafanhotos e das cigarras. Ao longe o apito do comboio punha-nos alerta já que a passagem de nível cama-de-rede dos embalos de fim-de-tarde se mantinha sem guarda. Quando íamos à cidade alguém saía do carro e punha-se à escuta, nunca o PARE ESCUTE E OLHE me fez tanto sentido. Era mesmo perigoso não o fazer.
As tardes eram passadas no terraço de ladrilho artesanal e a hora do lanche sagrada: os scones da avó, os melhores do mundo, as compotas, os figos secos e as amêndoas sempre presentes na mesa do chá. E quando havia visitas, os elogios vinham de todas as bocas caminho de desejo e segredo todos tinham os seus e por vezes as conversas transformavam-se em serões de suspense não havia lua se estava estrelado entre os jogos da adolescência e os de cartas, preferia os primeiros porque descobria segredos que pautas de palpitação se precipitavam quando o Daniel pegava na guitarra, começávamos todos a cantar os “hits” que estavam na berra “Wake me up…”, gritava a plenos pulmões. “Simple the best…” começava a Isabel logo de seguida - e pela noite fora todo um cancioneiro pop-rock era entoado. Também gostávamos de encenar pequenas peças para mostrar aos mais velhos, penso que foi desse tempo que me ficou o gosto pela arte de representar. Considerava muito possível vir a actuar num grande musical onde canto, dança e representação me elevassem a um estado de espírito constantemente inspirado alfarrobeira dos galhos de aventuras e cumpre-se o desejo numa estrela cadente.
Torno a olhar o céu e lá está ele, tal como nas noites da minha infância, escuro, negro e estrelado. E mais uma estrela cadente, mais um desejo pedido. Até hoje, ainda não se realizou o que mais frequentemente pedia: ir à lua num foguetão, dar a volta ao mundo num veleiro ou ter um tapete voador o escuro da cave velha sem ao olhar o céu identificava uma constelação outro desejo era ter uma ardósia onde escrevia tudo o que desejava ter e como que por magia tudo isso ficava ao meu alcance. Cheguei pensar que podia ser verdade quando ao acordar, por vezes, lá tinha um ou outro brinquedo e lá ia para junto da grande árvore onde construíamos a cabanas. Por entre as duas maiores árvores ficava o nosso caminho de desejo e segredo e o sótão sempre fechado. Era o medo do que ficava por contar e do que não queríamos que ninguém soubesse.
Este é o resultado de mais um exercício de EC, o texto que mais gostei de escrever pelo "aparente" non-sense mas que para mim fez todo o sentido. As pistas:
TEXTO COM INTERRUPÇÕES
Descrever a experiência de/ com:
A - Casa de infância
B - Desejo
C - Música
D - Medo
E - Céu
Estas palavras foram sugeridas, depois tinha de escrever algumas frases que me remetessem para estes 5 substantivos.
A1 - cama-de-rede dos embalos de fim-de-tarde
A2 - alfarrobeira dos galhos de aventuras
B1 - caminho de desejo e segredo
B2 - cumpre-se o desejo numa estrela cadente
C1 - sons em harmonia
C2 - pautas de palpitação
D1 - o sotão sempre fechado
D2 - o escuro da cave velha
E1 - ao olhar o céu, identificava uma constelação
E2 - não havia lua se estava estrelado
Descrever a experiência de/ com:
A - Casa de infância
B - Desejo
C - Música
D - Medo
E - Céu
Estas palavras foram sugeridas, depois tinha de escrever algumas frases que me remetessem para estes 5 substantivos.
A1 - cama-de-rede dos embalos de fim-de-tarde
A2 - alfarrobeira dos galhos de aventuras
B1 - caminho de desejo e segredo
B2 - cumpre-se o desejo numa estrela cadente
C1 - sons em harmonia
C2 - pautas de palpitação
D1 - o sotão sempre fechado
D2 - o escuro da cave velha
E1 - ao olhar o céu, identificava uma constelação
E2 - não havia lua se estava estrelado
Next step: começar a escrever, de vez em quando o formador dizia uma letra e nº e tinha de colocar a frase correspondente no texto, exactamente como a escrevei de início, naquele sítio da paragem, acrescentando a palavra "sem" ou "e" em alguns momentos para as unir e depois seguir em frente.
O mais curioso foi ter descoberto que, muitas vezes, as interrupções sugerem-nos outros caminhos criativos.
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