terça-feira, 25 de setembro de 2012

A "NOSSA" COLÓNIA



Colónia de férias da Shell
Almoçageme
15 e 16 de Setembro 2012
3º encontro dos antigos colonos

Tem sido absolutamente fantástico, desde o 1º reencontro após 20 anos sem ver a maior parte das pessoas, perceber de que maneira tocou cada um esta nossa casa de infância - as recordações, as lembranças, os cheiros, as histórias, a caruma e o ladrilho encerado (que já não existem), o ginásio, o consultório médico, os dormitórios e wcs tão diferentes do que eram (apenas os armários de madeira rabiscados lembram o espaço onde até altas horas da noite e num sussurro se trocavam segredos de enamoramentos de adolescência), as caminhadas, os jogos, as receitas da D. Rosa, a camaradagem dos monitores, os ensaios para a festa final, a largada na serra, a caça ao tesouro, as canções à viola, o churrasco e a fogueira, os ensinamentos e o carinho do Prof. Dario que levamos por toda a vida. Podia até criar um só blog para falar de tudo isto mas houve alguém que resumiu tudo o que fomos e o que somos, antes e agora, o que enriquecemos com esta colónia:

"Convosco partilho o artigo que a pedido do Tomás Baltazar, membro da Direcção da A.R.P.G.S.A.P. - Associação de Reformados e Pensionistas do Grupo Shell e Associadas em Portugal, escrevi a propósito do desaparecimento do Professor Dario.

N
o passado dia 21 de Abril, fui surpreendido com o desaparecimento do Professor Dario, “nome de guerra” de Carlos Dario Fernandes, Professor de Educação Física durante décadas dessa instituição de referência que é o Colégio Militar.

A par dessa sua actividade profissional, o Professor Dario foi, durante quase 30 anos, aquele a quem muitos de nós confiávamos os nossos filhos, já que por meados da década de 60, foi contactado pelo Departamento de Pessoal da Shell Portuguesa para, na Colónia de Férias, actuar como orientador e responsável das actividades físicas.

Ou seja, nas suas férias escolares, acabava a manter actividade profissional, só que agora num meio bem diferente e com uma população bem diversa. E assim se mantinha durante os 4 Turnos que iam de meados de Junho até meados de Setembro.
Mas ao que sei e depois bem percebi, a sua personalidade era de tal estirpe, que meia dúzia de anos passados, foi desafiado para Director da Colónia de Férias, cumulativamente com as responsabilidades gímnicas que o lá tinham levado.

Tive oportunidade e diria que o raro privilégio de o conhecer pessoalmente, por via das longas e sucessivas estadas dos meus dois filhos – Romana e João Francisco – na Colónia de Férias, afincados e fanáticos colonos que foram desde os 4 até aos 14 anos, repetindo turnos, sempre que para tal havia disponibilidade.

E foi aí que me apercebi e confirmei quem era o Professor Dario, depois das muitas, entusiásticas, excelentes, fascinantes referências que a casa me chegavam, desde aquele primeiro fim-de-semana de “ida a casa”.
Com efeito, esta personagem longilínea, calma e tranquila, exalava um fascínio único sobre os miúdos, a par de um rigor e disciplina que se é própria dos meios castrenses, é algo de invulgar nos meios “civis”, mesmo correndo o risco de ser menos bem aceite esse modo de actuação, sobretudo nos tempos que correm…

O que é certo é que ele não precisava de se zangar com os miúdos, mesmo que muito traquinas, já que a sua forma de actuar passava pelo olhar circunstancialmente triste e desapontado, neles criando o peso na consciência de o terem pontualmente desiludido, e com isso gerando a esperada correcção do comportamento. É que “(…) pôr o Professor Dario triste, não pode ser !!!”.

Pessoa de elevada cultura, o Professor Dario era de uma extrema simpatia, enorme generosidade, nunca levantava a voz, fosse para o que fosse, e controlava tudo o que na Colónia se passava de fio a pavio ! Muitos dos miúdos diziam que “Oh Pai/Mãe ! O Professor Dario não dorme !”.

Aos Pais, nas conversas informais que com todos tinha o cuidado de manter, quer quando os íamos buscar para a “saída de Domingo”, quer durante a Festa Final, o Professor Dario mostrava um profundo conhecimento das personalidadades dos nossos Filhos, sobre os quais o fascínio que sobre eles exercia, o carinho e a ternura que por eles nutria, eram por demais evidentes.

Certo de que a par de muitos dos nossos filhos terem com ele aprendido a nadar (muitos ainda têm na cabeça o refrão de “Braaaços ! Peeernas !”), também com ele aprenderam, com rigor, disciplina, quase que sem darem por isso, as regras do convívio saudável, cordial, distinto, até, com normas que aprendiam e apreendiam quase que por osmose.

Desde o ritual das refeições em que ordenadamente se entrava na sala, se ocupava o respectivo lugar, mas em que ninguém se sentava antes do Professor Dario entrar na sala e dar permissão para se sentarem, até às regras de como pegar na faca e no garfo, tudo era adequadamente ensinado, corrigido e transmitido, mas mais que isso, cabalmente absorvido por todos os miúdos.

E isto para já não referir a regra de rotatividade que ele se impunha de em todas as refeições mudar de mesa, tendo em vista chegar e contactar aturadamente com todas as crianças, saber dos seus anseios, dos seus sonhos, enfim, conhecê-las, compreende-las, estimula-las. Para os miúdos era uma verdadeira “honra” tê-lo tão perto no seu convívio.

“Cereja em cima do bolo”, era o quase disputado momento de poder com ele dançar no chamado “Jantar de Gala” que a saudosa Dona Rosa afincadamente preparava para a noite que precedia a Festa de Despedida.
Enfim, com o desaparecimento do Professor Dario, fecha-se um ciclo, uma época, uma história, da qual fazem também parte o Senhor Ilídio (o nosso colega Ilídio Corvo) e a Dona Rosa. Para muita gente, hoje já adulta, foi um marco de referência para a sua formação e educação.

Foi uma personalidade ímpar e um ícone para as pessoas que com ele privaram e para as instituições por onde passou, graças a uma certa aura de personalidade muito generosa, envolvente e de extraordinário fundo moral e de bem servir.

Prova disso foi a sua cerimónia fúnebre que teve lugar na Sala de Armas do Colégio Militar. Por lá passaram e estiveram largas dezenas de pessoas, de várias gerações e de vários locais. Muitos alunos seus e muitos “colonos” seus. E dos testemunhos vários registados em páginas das chamadas “Redes Sociais”, ficou bem patente a marca e a herança de valores éticos que ele deixou como seu mais importante legado, o que nos deixa a pensar que ter uma vida assim… vale(u) mesmo a pena.

Por mim, dou Graças por tê-lo conhecido e estou muito agradecido pela sua contribuição na formação da minha descendência."

João Manuel Taveira

Obrigada JMT por tão singular descrição. Obrigada prof. Dario e a todos com quem me cruzei nesta família. Até sempre!

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