quinta-feira, 13 de setembro de 2012

UM JANTAR ILUSTREMENTE DESCONHECIDO


Na azáfama dos dias mundanos já ninguém perde tempo a trocar ideias numa boa conversa de café ou após o longo repasto do almoço de Domingo em família. Eu, pelo menos, sinto falta desses tempos.

Tanto que aqui há uns meses, ao receber uma newsletter com dicas culturais e gastronómicas que subscrevi há uns tempos e me tem feito sair de casa à descoberta de novas experiências sensoriais, leio qualquer coisa como: “Larga as pantufas, os jantares do costume, deixa o Meo a gravar aquela série e aceita o desafio: vem conhecer 9 pessoas igualmente interessantes das quais não sabes absolutamente nada…” A ideia agradou-me desde o primeiro minuto – o que esperar de um grupo de 10 pessoas desconhecidas, à mesa do jantar para conversar com a particularidade do encontro ser num bairro típico de Lisboa?!?

Enviei um mail para me inscrever mas confesso, não antes de passar pelo site e de ver referências e recomendações de algumas personalidades da cena pública - sou aventureira mas o grau de risco tem de ser minimamente controlado. Se bem que a sinopse do conceito e algumas fotografias de outros destes improváveis encontros teriam sido suficientes para me arrancar de casa mesmo num dia chuvoso de Inverno, rumo ao desconhecido – o local exacto e o menu permaneceriam uma incógnita até lá chegarmos. Apenas fui informada do local e hora do ponto de encontro.

E assim aconteceu, numa 5ª às 9 em frente ao Museu do Fado, um grupo de desconhecidos reúne-se, faz as primeiras apresentações meio atabalhoadas e segue o organizador pelas ruazinhas de Alfama, com as casas de porta e janela e canteiros e vidas de gente suspensas em cada esquina, os lampiões a iluminarem a noite e a nossa expectativa, à medida que galgávamos escadinhas e tentávamos ultrapassar, sem cair, as ondulações do empedrado escorregadio pela cacimba até chegar ao porto de abrigo das próximas horas: uma taberna perdida num páteo escondido pelos becos e ecos de uma Lisboa que nem todos conhecem.

autoria: Jorge Tam

O Fred (o organizador que nos foi pescar ao Lg do Chafariz de Dentro), tal qual um comandante que vai dando as coordenadas, à medida que íamos avançando Alfama acima, acabou por revelar que a ideia partiu da vontade de mostrar ao vivo o bilhete postal que os estrangeiros conhecem mas que os residentes na própria cidade, muitas vezes, nem sabem que existe. Ao mesmo tempo desafiar pessoas com as mais distintas personalidades, estilos de vida, actividades profissionais e pessoais a trocarem experiências de vida enquanto se regalam com alguns petiscos. Esta é só uma das muitas iniciativas de uma ideia maior de seu título: Alfama-te

Quando entrámos a mesa estava posta: pratos, talheres, argolas de guardanapos de formas variadas, copos de vidro altos, baixos, de cores e texturas diferentes, entradas de tomate e mozzarella, pão e vinho sobre a mesa como diria o fado… tudo para aguçar os apetites e saciar finalmente a curiosidade do imprevisto.                                          
Durante pouco mais de 2 horas os assuntos foram-se sobrepondo, as gargalhadas atropelaram-se, a timidez de alguns desvaneceu-se aos poucos pelos turbilhão de histórias e graçolas que iam surgindo à medida que os minutos passavam… A certa altura tive a sensação de que algumas caras me eram familiares como se já nos tivéssemos encontrado noutras ocasiões (penso que só impressão mesmo). Tudo muito estranho e ao mesmo tempo divertido e contagiante. Afinal, uma boa conversa à mesa pode aproximar os mais improváveis indivíduos, desbloquear assuntos quase interditos, aqueles que vamos guardando e não revelamos nem ao “pior amigo”.

A única coisa menos positiva foi ser num dia útil de semana, a maioria tinha de se levantar cedo para trabalhar no dia seguinte, nem todos moravam em Lisboa e ainda tinham uns kilometros pela frente… acho que as conversas ficaram com pano para mangas mas não deixou de ser entusiasmante: o frenesim de sair noite fora sem fazer a mínima do que se vai passar nem qual será o desfecho, a mim dá-me uma certa pica.

Exc: crónica tema livre 

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