Na azáfama dos dias
mundanos já ninguém perde tempo a trocar ideias numa boa conversa de café ou
após o longo repasto do almoço de Domingo em família. Eu, pelo menos, sinto
falta desses tempos.
Tanto que aqui há uns meses, ao receber uma
newsletter com dicas culturais e gastronómicas que subscrevi há uns tempos e me
tem feito sair de casa à descoberta de novas experiências sensoriais, leio
qualquer coisa como: “Larga as pantufas, os jantares do costume, deixa o Meo a
gravar aquela série e aceita o desafio: vem conhecer 9 pessoas igualmente
interessantes das quais não sabes absolutamente nada…” A ideia agradou-me desde
o primeiro minuto – o que esperar de um grupo de 10 pessoas desconhecidas, à mesa
do jantar para conversar com a particularidade do encontro ser num bairro
típico de Lisboa?!?
Enviei um mail para me inscrever mas
confesso, não antes de passar pelo site e de ver referências e recomendações de
algumas personalidades da cena pública - sou aventureira mas o grau de risco
tem de ser minimamente controlado. Se bem que a sinopse do conceito e algumas
fotografias de outros destes improváveis encontros teriam sido suficientes para
me arrancar de casa mesmo num dia chuvoso de Inverno, rumo ao desconhecido – o
local exacto e o menu permaneceriam uma incógnita até lá chegarmos. Apenas fui
informada do local e hora do ponto de encontro.
E assim aconteceu, numa 5ª às 9 em frente ao Museu do
Fado, um grupo de desconhecidos reúne-se, faz as primeiras apresentações meio
atabalhoadas e segue o organizador pelas ruazinhas de Alfama, com as casas de
porta e janela e canteiros e vidas de gente suspensas em cada esquina, os
lampiões a iluminarem a noite e a nossa expectativa, à medida que galgávamos
escadinhas e tentávamos ultrapassar, sem cair, as ondulações do empedrado
escorregadio pela cacimba até chegar ao porto de abrigo das próximas horas: uma
taberna perdida num páteo escondido pelos becos e ecos de uma Lisboa que nem
todos conhecem.
autoria: Jorge Tam
Quando entrámos a mesa estava posta:
pratos, talheres, argolas de guardanapos de formas variadas, copos de vidro
altos, baixos, de cores e texturas diferentes, entradas de tomate e mozzarella,
pão e vinho sobre a mesa como diria o fado… tudo para aguçar os apetites e
saciar finalmente a curiosidade do imprevisto.
Durante pouco mais de 2 horas os assuntos
foram-se sobrepondo, as gargalhadas atropelaram-se, a timidez de alguns
desvaneceu-se aos poucos pelos turbilhão de histórias e graçolas que iam
surgindo à medida que os minutos passavam… A certa altura tive a sensação de
que algumas caras me eram familiares como se já nos tivéssemos encontrado
noutras ocasiões (penso que só impressão mesmo). Tudo muito estranho e ao mesmo
tempo divertido e contagiante. Afinal, uma boa conversa à mesa pode aproximar
os mais improváveis indivíduos, desbloquear assuntos quase interditos, aqueles
que vamos guardando e não revelamos nem ao “pior amigo”.
A única coisa menos positiva
foi ser num dia útil de semana, a maioria tinha de se levantar cedo para
trabalhar no dia seguinte, nem todos moravam em Lisboa e ainda tinham uns kilometros
pela frente… acho que as conversas ficaram com pano para mangas mas não deixou
de ser entusiasmante: o frenesim de sair noite fora sem fazer a mínima do que
se vai passar nem qual será o desfecho, a mim dá-me uma certa pica.
Exc: crónica tema livre
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